V

Sambas-enredo
da cidade da Bahia

V

Registro de memórias

Escola de samba

Filhos do Tororó

Uma das mais tradicionais agremiações carnavalescas de Salvador, os Filhos do Tororó surgiram como cordão em 1953, tendo, ao longo de sua primeira década de existência, ganhado destaque no Reinado de Momo da capital baiana, rivalizando com agrupamentos como Vai Levando, Deixa Vida de Quelé e Mercadores de Bagdá; atraindo as atenções da imprensa carnavalesca; e faturando o título da disputa entre cordões no ano de 1956. Sempre conduzida por seu dirigente máximo, o eterno presidente Arnaldo Silva, adotou o formato de escola de samba – abandonando os instrumentos de sopro e organizando seus componentes em alas – e passou a disputar o concurso organizado pela Prefeitura de Salvador nesta nova categoria a partir de 1963.

Os relatos dos antigos foliões da escola apontam o ano de 1965 como o primeiro em que a agremiação vermelha, azul e branca levou à Avenida um samba-enredo, sendo “Postais da Bahia”, de Nelson Rufino, possivelmente, o pioneiro do Carnaval baiano – e que garantiu ao Tororó o título do certame. O compositor repetiria a dose no ano seguinte, emplacando uma criação musical de sua autoria para o enredo “Fatos da Independência do Brasil”.

A partir de 1967, desponta na escola aquele que é considerado por muitos o maior compositor de sambas-enredo da história do Carnaval soteropolitano: Ederaldo Gentil. Cria da bateria da escola, na qual se apresentava tocando tarol, emplaca os sambas do biênio 1967/1968 – “Dois de Fevereiro” e “História dos Carnavais” -, que posteriormente seriam gravados pelo próprio sambista.

Em 1969, interrompendo esta sequência, chega ao Tororó, pelas mãos de Arnaldo Silva, o compositor Walmir Lima, que brilhara com os Filhos do Morro no Carnaval do ano anterior. Com um samba-enredo de grande maestria, desbanca Ederaldo Gentil, Nelson Rufino e outros pratas da casa, vencendo o concurso e levando para a Avenida o enredo “Jorge Amado em quatro tempos”, que, de tão marcante, foi citado pelo escritor homenageado em seu romance “Tenda dos Milagres” – o samba, posteriormente, seria gravado, com a inclusão de Nelson Rufino na parceria. No ano seguinte, sem a concorrência de Ederaldo Gentil, que se afastaria da escola para compor sambas-enredo para diversas outras agremiações naquele Carnaval de 1970, Walmir Lima volta a triunfar no concurso interno dos Filhos do Tororó e leva ao desfile na Praça da Sé o samba-enredo “A Casa da Torre de Garcia D’Ávila”.

Com a volta de Ederaldo Gentil, sambista que gozava de grande prestígio na escola, os sambas-enredo dos três anos seguintes voltariam a ter o Poeta do Tororó como autor. Assim, os enredos “Canto de louvor a uma raça”, “Festa da integração nacional” (“Dia de festa”) e “50 anos de Yalorixá de Mãe Menininha do Gantois” (“In-lê-in-lá”) voltaram a ganhar letra e melodia do baluarte soteropolitano, levando a escola, no último Carnaval deste triênio, em 1973, ao título – o segundo e último da agremiação tricolor do Tororó.

O Carnaval de 1973 foi marcado, ainda, pela acirrada disputa interna na escolha do samba-enredo, sendo um dos sambas derrotados, de autoria de Roque Fumaça, Sidney da Conceição e Baiano do Cabral, considerado por muitos integrantes veteranos da escola “mais forte” que o de Ederaldo Gentil – o samba chegou a ser cantado pelos foliões nas ruas da cidade após o desfile, no retorno da escola ao bairro do Tororó, e foi, naquele mesmo ano, gravado pelo grupo Os Partideiros do Plá, liderado por Roque Fumaça – então rebatizado de Roque do Plá, em terras fluminenses.

Nos anos seguintes, com cada vez menos força na disputa das escolas de samba, os Filhos do Tororó voltaram a apresentar belos sambas-enredo, com assinatura de nomes como Vicente de Paulo, Russo e Salvador Oliveira, mas sem a mesma força do passado. Um fato curioso nestes últimos anos de existência dos Filhos do Tororó se deu em 1975, quando, depois de renhida disputa, Salvador Oliveira (o Salvador Batucada), se habilitou para defender o enredo “Memórias de Mestre Bimba” na Avenida, mas, em cima da hora, a escola deixou de apresentar-se no certame.

Em 1981, despedindo-se do Carnaval soteropolitano após quase três décadas de atuação, os Filhos do Tororó apresentaram o enredo “Deixe o coração mandar”, obtendo o vice-campeonato, atrás do Ritmo da Liberdade.

Sambas-enredo: