Considerado o maior compositor de sambas-enredo da Bahia, Ederaldo Gentil iniciou sua trajetória nos Filhos do Tororó na bateria da escola, tocando surdo e tarol. Ciente de seu talento como compositor, o presidente da agremiação, Arnaldo Silva, com vistas ao Carnaval de 1967, convenceu o sambista – que não tinha coragem de se apresentar ainda como criador de sambas – a inscrever uma composição no concurso que iria definir o samba-enredo a ser apresentado pela escola no palanque da Praça da Sé, cujo tema naquele ano era “Dois de Fevereiro”. Em uma disputa que teve como principal concorrente o compositor vencedor dos anos anteriores, Nelson Rufino, Ederaldo Gentil levou a melhor.
No ano seguinte, criou para a escola de seu coração, novamente derrotando Nelson Rufino, um samba-enredo considerado um dos mais belos da História dos carnavais por sambistas da cidade, “História dos Carnavais”, desta vez, também, defendendo-o na Avenida, ocasião que marcaria sua estreia como “puxador” de samba-enredo no Carnaval.
Com cartaz na escola, Gentil buscou em 1969 emplacar mais um samba-enredo, mas, naquela ocasião, viu Walmir Lima, convidado por Arnaldo Silva para ingressar na Ala de Compositores da escola, criar a melhor obra para o enredo “Jorge Amado em quatro tempos”, experimentando o amargo sabor da derrota pela primeira vez – o consolo foi compor para os Ritmistas do Samba o samba-enredo “Onze anos de samba e tradição”.
O revés nos Filhos do Tororó, que veio acompanhado de um provocativo “samba de sugesta” de Nelson Rufino e Walmir Lima (“Veneno”), o levou a se afastar da escola, criando no Carnaval de 1970, sambas-enredo para a maioria das outras agremiações que disputavam o concurso na Praça da Sé – o destaque foi a composição que fez com Edil Pacheco para a Juventude do Garcia, “Samba, canto livre de um povo”, que marcou a história dos desfiles de escolas de samba da capital baiana.
Passado o mal-estar com a escola de samba comandada por Arnaldo Silva, Ederaldo logo estaria de volta, emplacando mais três sambas-enredo na sequência (“Canto de louvor a uma raça”, em 1971; “Festa da Integração Nacional”, em 1972; e “50 anos de Yalorixá de Mãe Menininha do Gantois” (com Anísio Félix), em 1973.
Cabe um destaque maior o relato sobre o Carnaval de 1973, quando, enfim, o compositor viu sua escola do coração vencer um título com um samba-enredo de sua autoria. E o caminho para este triunfo não foi simples, tendo Ederaldo Gentil que superar a forte concorrência de um samba-enredo de autoria de Roque Fumaça, Sidney da Conceição e Baiano do Cabral. Mas seu cartaz na escola e, claro, a força de seu samba, falaram mais alto na disputa, legando à memória musical uma linda obra, que mais tarde seria gravada com pequenas alterações na letra, sob o título de “In-lê-in-lá”.
A boa fama de Ederaldo Gentil como compositor de sambas-enredo se deve, além de seu incontestável talento, ao fato de ter gravado em disco a grande maioria de suas obras. Não restam dúvidas de que o compositor oriundo das fileiras da escola do Tororó merece a sua consagração e o seu reconhecimento como um dos maiores autores do gênero no país.