Quem vê esse Brasil tão feliz
Tão rico e tão nobre a prosperar
Sustentou batalhas e revoluções
Para a Independência conquistar
Foi em 1789, em Vila Rica, Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Com outros brasileiros numa trama fatal
No anseio da liberdade
Planejaram arrancar o Brasil das garras de Portugal
Inconformado com o regime português
O movimento logo se estendeu
Vieram os dissabores, surgiram os traidores
Na forca, Tiradentes morreu
Lará rá lará rá lará lará rará
Na Bahia, levantaram-se os alfaiates
Em ataques violentos e desenfreados
Mas o sonho desta gente
Tombaram no campo enforcado
E o rastilho incendiou Pernambuco
Acendeu-se outra vez a chama da liberdade
Não cederam os lusitanos
E foram mutilados pela crueldade
Em Sete de Setembro de 1822
Na colina do Ipiranga, às margens do ribeirão
Dom Pedro proclamou a Independência
Para o bem de toda a nação
Lará rá lará rá lará lará rará
Enfim, a Dois de Julho de 1823
Livrou-se o Brasil das garras do jugo português
Na terra dos Orixás encantados
Da capoeira, candomblés admirados
Das mulatas sestrosas gingando
Do mulato izoneiro sambando
Das igrejas de luzes de ouro
Do céu azul da Bahia presépio
Onde tudo é mandinga e tesouro
Aqui, de Itapagipe ao outeiro de Pirajá
Num estrondear de fuzilaria
O anjo da morte a mortalha cozia
Dos bravos heróis da Bahia
Madeira à frente das tropas
Luso general cheio de glória
Tombava no ataque à vitória
Caía Sóror Joana Angélica, João das Botas
Lima e Silva inflamado
A lendária Maria Quitéria, Labutat
E o toque de clarim enganado
Cochrane, dominador dos mares
Heroica Cachoeira e Itaparica sangrando
Chegavam os primeiros triunfos
Da lusa esquadra se afastando
Bahia, cenário de pugna imensa
De luta intensa, feroz e febril
Baía de Todos-os-Santos
Bahia da Independência do Brasil
Áudio: Lúcio Nery Viana
Faixa 3 do álbum “Sambas-Enredo da Cidade da Bahia”
Intérprete: Guiga de Ogum
Participação especial: Carlito Cafroxo (tamborim)
A epopeia da Independência do Brasil, quando narrada a partir do ponto de vista dos baianos, traz capítulos ignorados em outros cantos do país: outras efemérides, outros heróis e uma abordagem dos fatos mais precisa são contemplados em um novo enredo. Visando o Carnaval de 1968, João Amaral, um dos principais diretores da Diplomatas de Amaralina, ousou contar esta história em exatos 53 versos. A tarefa de transformar tal letra em um melodioso “samba-lençol” – como eram chamados os sambas-enredo de formato extenso que buscavam “cobrir” toda a história narrada no desfile – coube a Guiga de Ogum, sambista recrutado junto à Ritmistas do Samba. Coletado com Lucio Nery Viana, ex-presidente de ambas as agremiações, “História da Independência do Brasil” tem seu registro aqui realizado por Guiga de Ogum, um dos grandes nomes do samba da Bahia.